A Guerra
História compartilhada pelo amigo Left-Eye, o Mago.
“Hoje completaria seis anos de paz. Seis anos, cinco meses e 27 dias, para ser mais exato.
A guerra contra o último exército de Kondraw havia acabado em um tratado de paz entre os humanos e os orcs. Nenhum dos lados suportava mais perdas. Assim pensávamos.
Sabíamos do fato de que entre os generais de ambos os lados, havia uma divisão entre os que lutavam pela paz e os que ansiavam pelo derramamento de mais sangue inimigo. Sabíamos disso e continuávamos mentindo a nós mesmos.
Nestes seis anos, consegui encontrar uma donzela, Alrisha, para me casar e tive dois filhos gêmeos, que completariam três anos em sete dias. Assim estava eu orando para que acontecesse.
Estava bebendo minha cerveja rotineira das 20h com mais três amigos, uma guerreira e dois generais do antigo exército humano, quando ouvimos a primeira explosão.
Saímos da taverna e vimos a 5 quilômetros a nossa frente um mar de orcs iluminados por tochas apoiadas em gigantes.
No meio da primeira fileira, vimos um círculo de fogo se acender e começar seu caminho pelo céu, deixando um rastro de fumaça.
– Eles têm catapultas – consegui pensar antes de ser empurrado para o lado por um estranho com uma capa negra e capuz.
O estranho passou correndo por todos que estavam do lado de fora da taverna, e seria o primeiro a ser atingido pela bola de fogo. Isso se ela tivesse seguido o curso normal. A bola parou a um metro de distancia do estranho e ficou girando no ar antes de ser arremessada de volta para o exército inimigo.
– Ared, precisamos que você vá avisar o rei que os orcs quebraram o tratado de paz. Leve sua mulher e seus filhos. Salve-os. Nos resistiremos até você voltar com a ajuda.
– Não posso abandoná-los aqui. Como vocês resistirão a esse exército sem estarem preparados para a guerra?
– Você realmente acha que não estávamos preparados para isso? Não viu o estranho de capuz? Olhe para trás.
E foi nesse momento que percebi o quão ingênuo eu era nos assuntos da guerra. Havia pelo menos 30 pessoas encapuzadas. Se todas elas fossem capazes de fazer o mesmo que o estranho que me empurrou, talvez a cidade não estivesse perdida. A identidade deles talvez eu nunca descobrisse.
– Vá antes que seja tarde. E não volte se não tiver um exército com você. Você sabe que os orcs não vão atacar agora. Essa estratégia deles é antiga. Intimidam com os números e montam acampamento e aguardam a chegada do líder deles.
Corri em direção à minha casa sem olhar para trás. Como a taverna era perto de casa, cheguei em cinco minutos. Alrisha já estava na porta, com um gêmeo em cada mão. Nossa tradição não permitia dar nomes aos nossos filhos antes do ritual de batismo na cidade de Woltur quando as crianças completavam três anos.
Não sabia dizer se era destino ou coincidência, mas a cidade onde o rei vivia era a mesma onde o ritual de nomeação acontecia.
Pegamos nossos cavalos e partimos para Woltur, deixando a guerra para trás.
– Aguentem mais um pouco meus amigos, volto em cinco dias.”